domingo, maio 31

Heteranthera limosa


celebrações

meus amigos fazem aniversário.
nos vemos e tocamos, comprovando a existência.
é a vida que segue.

quarta-feira, maio 27

gente impressionante na noite - Sá Carneiro é ..

Enviado por Pedro Lago, do Corujão da Poesia -
26.5.2009
23h30m
Poema da noite (Semana Mário de Sá-Carneiro)
Aquele Outro - Mário de Sá-Carneiro
O dúbio mascarado, o mentiroso
Afinal, que passou na vida incógnito;
O Rei-lua postiço, o falso atónito;
Bem no fundo, o cobarde rigoroso...
Em vez de Pajem, bobo presunçoso.
Sua alma de neve, asco dum vómito...
Seu ânimo, cantado como indómito,
Um lacaio invertido e pressuroso...
O sem nervos nem ânsia, o papa-açorda...
(Seu coração talvez movido a corda...)
Apesar de seus berros ao Ideal.
O corrido, o raimoso, o desleal,
O balofo arrotando Império astral,
O mago sem condão, o Esfinge gorda...

festa

minha gata gosta da água parada da pia da cozinha.
acho que ela vai morrer envenenada,
mas ela nunca morre!

ela salta, como se não houvesse amanhã.
é o ponto em que a invejamos?

domingo, maio 24

cores na cidade

quando voltava pra casa, três motos, grandes e coloridas, passaram por mim.
times uniformizados jogavam futebol no campinho da quadra.
um monomotor no céu.

é um domingo de sol depois de noites de festas,
onde nossos olhos sorridentes se reconheceram.

sexta-feira, maio 22

um dia eu vi cabras no jardim

Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
No meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
Meu filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal
Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros

(Zé Rodrix foi compor em outras bandas)

quarta-feira, maio 20

tudo o que faço ou medito

Tudo que faço ou medito
Fica sempre na metade
Querendo, quero o infinito.
Fazendo, nada é verdade.

Que nojo de mim me fica
Ao olhar para o que faço!
Minha alma é lúdica e rica,
E eu sou um mar de sargaço —

Um mar onde bóiam lentos
Fragmentos de um mar de além…
Vontades ou pensamentos?
Não o sei e sei-o bem.

Fernando Pessoa - Cancioneiro- 13/09/1933

terça-feira, maio 19

Darwinius massillae


Ida, uma macaca-lêmure que viveu há 47 milhões de anos na Alemanha, está sendo apresentada como a mais nova descoberta da paleontologia: o elo-perdido, um ancestral comum de grandes primatas (homens, gorilas, etc) e pequeninos primatas (como os lêmures!).

O ponto onde nossa árvore genealógica inicia sua divisão, gerando espécies transitórias.

Darwin intuiu a Ida.
E eu, aqui nesse tempo, testemunho a genialidade de Darwin!


Em tempo: A Revista Brasileiros traz o mapa astral de Charles Darwin, um aquariano típico, coisa assim avant-garde.
Tudo está previsto nos astros.

segunda-feira, maio 18

o real

estou novamente sem carro.
a dor e a delícia desse lugar ermo.

exercitamos o transporte solidário, a vizinhança
e aquela curiosidade de ver os amigos pela manhã.

domingo, maio 17

procrastinar

desde esse momento aguardo o amanhã
para mudar para sempre

sábado, maio 16

Heteranthera dubia

...

(falo com vocês telepaticamente, rsrs)

quinta-feira, maio 14

gotas alcoólicas

E bebendo, Vida, recusamos o sólido
O nodoso, a friez-armadilha
De algum rosto sóbrio, certa voz
Que se amplia, certo olhar que condena
O nosso olhar gasoso: então, bebendo?
E respondemos lassas lérias letícias
O lusco das lagartixas, o lustrino
Das quilhas, barcas, gaivotas, drenos
E afasta-se de nós o sólido de fechado cenho.
Rejubilam-se nossas coronárias. Rejubilo-me
Na noite navegada, e rio, rio, e remendo
Meu casaco rosso tecido de açucena.
Se dedutiva e líquida, a Vida é plena.
*
Te amo, Vida, líquida esteira onde me deito
Romã baba alcaçuz, teu trançado rosado
Salpicado de negro, de doçuras e iras.
Te amo, Líquida, descendo escorrida
Pela víscera, e assim esquecendo
Fomes
País
O riso solto
A dentadura etérea
Bola
Miséria.
Bebendo, Vida, invento casa, comida
E um Mais que se agiganta, um Mais
Conquistando um fulcro potente na garganta
Um látego, uma chama, um canto. Amo-me.
Embriagada. Interdita. Ama-me. Sou menos
Quando não sou líquida.

Hilda Hilst e seu desejo

quarta-feira, maio 13

sonhei com ele?

tudo foi tão débil, fluido
fios de vida pregados nas pontas
..dos cílios!

terça-feira, maio 12

de manhã no rádio do carro

Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
Ter loucura por uma mulher
E depois encontrar este amor, meu senhor
Nos braços de um outro qualquer
Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
E por ele quase morrer
E depois encontrá-lo em um braço
Que nem um pedaço do seu pode ser

(Jamelão faria 96 anos)

segunda-feira, maio 11

outra luz, um filtro vermelho

Após cinco dias sem carro, tudo voltou ao normal.
Pude ver meus amigos e me mover independente, rir, vir...

É outono na cidade e as chuvas lavaram o céu,
de modo que os motoristas contumazes deveriam ser agraciados com uns dias sem carro, para que olhem para o alto.

De brinde, a experiência de mover-se entre a cidade.

(tenho óculos de sol acastanhados.)

domingo, maio 10

dia das mães

"Uma das grandes enfermidades é não ser ninguém para ninguém."
Madre Tereza de Calcutá

sexta-feira, maio 8

soneto do gato morto


Um gato vivo é qualquer coisa linda
Nada existe com mais serenidade
Mesmo parado ele caminha ainda
As selvas sinuosas da saudade

De ter sido feroz. À sua vinda
Altas correntes de eletricidade
Rompem do ar as lâminas em cinza
Numa silenciosa tempestade.

Por isso ele está sempre a rir de cada
Um de nós, e ao morrer perde o veludo
Fica torpe, ao avesso, opaco, torto

Acaba, é o antigato; porque nada
Nada parece mais com o fim de tudo
Que um gato morto.

De: MORAES, Vinícius de. Nova antologia poética. Org. por Antonio Cicero e Eucanaã Ferraz. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2008

quinta-feira, maio 7

gripe

fui ao banco na terça-feira
e debaixo do ar condicionado
peguei uma gripe, ali mesmo naquela hora.

se depender do meu sistema imunológico
morrerei de influenza.

terça-feira, maio 5

do modo como envelhecem


Hoje começa no CCBB Brasília a mostra de filmes chamada Tribos Urbanas.
Easy Rider e Peter Fonda querem falar sobre a tal liberdade.
Quero ver todos os filmes, porque essas tribos são a história do meu tempo.

Mas eis o que disse Dennis Hopper, na web:
"Talvez não haja mais contra o que se rebelar. Parece que todo mundo anda muito satisfeito consigo mesmo hoje em dia. Agora que me tornei parte do sistema, acho que gostaria de ficar nele".

Dia desses se foi Augusto Boal, que nunca capitulou.
Fez de seu teatro e de sua vida uma fala que não se calou, que gritou.

Todos sabem quando tomba um guerreiro.

segunda-feira, maio 4

o tempo não para

faço remendos em mim
enquanto tiro teias dos cantos

é amargo e doce
ir se descobrindo

sábado, maio 2

eu sinto quando ele fala comigo

e também sobre a música escolhida de Chico.
(tenho olhos e ouvidos para os sinais...)

Fado Tropical
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque/ Ruy Guerra

Oh, musa do meu fado
Oh, minha mãe gentil
Te deixo consternado
No primeiro abril

Mas não sê tão ingrata
Não esquece quem te amou
E em tua densa mata
Se perdeu e se encontrou
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal

"Sabe, no fundo eu sou um sentimental
Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo ( além da sífilis, é claro)
Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar
Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..."

Com avencas na caatinga
Alecrins no canavial
Licores na moringa
Um vinho tropical
E a linda mulata
Com rendas do alentejo
De quem numa bravata
Arrebata um beijo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal

"Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contesto

Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto

Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadora à proa
Mas meu peito se desabotoa
E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa"

Guitarras e sanfonas
Jasmins, coqueiros, fontes
Sardinhas, mandioca
Num suave azulejo
E o rio Amazonas
Que corre trás-os-montes
E numa pororoca
Deságua no Tejo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um império colonial
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um império colonial

sexta-feira, maio 1

o trabalho de ser mulher

hoje o telefone tocou antes das 8 da manhã.
era uma mulher pedindo socorro.
não há como desligar-se e voltar a dormir.

hoje Delara Dalabi foi assassinada pelo governo do Irã.
tinha 23 anos e foi presa aos 17, para salvar um namorado.

a violência nos abraça a todas.