sábado, agosto 14

novo endereço

estamos atendendo no:

(obs: em construção.)

porque ela jura que algo há de pintar por aí...

porque jura que mudou ou vai mudar, agora!

porque adora... tudo...tutti...tutti...

riso e dor, em igual proporção.

sexta-feira, julho 2

e o Brasil é eliminado da copa 2010!

perdemos pra Holanda,
colonizador não tem medo
de colonizado

quinta-feira, julho 1

fim

fim do solstício
fim do eclipse
fim do caminho

tem cristal lá na frente
não é uma estrada
é uma viagem!

segunda-feira, junho 14

a personagem que me habita

O assombroso do seu instinto simplificador era que quanto mais se desembaraçava da moda procurando a comodidade e quanto mais passava por cima dos convencionalismos em obediência à espontaneidade, mais perturbadora ficava a sua beleza inacreditável e mais provocante o seu comportamento para com os homens. (...)
Apesar de o coronel Aureliano Buendía continuar a acreditar e a repetir que Remédios, a bela, era, de facto, o ser mais lúcido que jamais conhecera e que o demonstrava a todo o momento com a sua assombrosa habilidade para fazer pouco de toda a gente, abandonaram-na ao deus-dará.
Remédios, a bela, ficou a vaguear pelo deserto da solidão, sem cruzes às costas, amadurecendo nos seus sonhos sem pesadelos, nos seus banhos intermináveis, nas suas refeições sem horários, nos seus profundos e prolongados silêncios sem recordações, até uma tarde de Março em que Fernanda quis dobrar no jardim os seus lençóis de barbante e pediu a ajuda das mulheres da casa. Mal tinham começado quando Amaranta reparou que Remédios, a bela, estava transparente, com uma palidez intensa.
—Sentes-te mal?—perguntou-lhe.
Remédios, a bela, que segurava o lençol pela outra ponta, fez um sorriso magoado.
—Pelo contrário—disse—, nunca me senti tão bem.
Palavras não eram ditas e Fernanda sentiu que um delicado vento de luz lhe arrancou os lençóis das mãos e desdobrou-os em toda a sua amplitude. Amaranta sentiu um tremor misterioso nas rendas dos seus saiotes e tentou agarrar-se ao lençol para não cair, no momento em que Remédios, a bela, começava a elevar-se. Úrsula, já quase cega, foi a única que teve a serenidade para identificar a natureza daquele vento irreparável e deixou os lençóis à mercê da luz ao ver Remédios, a bela, que lhe dizia adeus com a mão, entre o deslumbrante adejo dos lençóis que subiam com ela, que abandonavam com ela o ar dos escaravelhos e das dálias, e passavam com ela através do ar onde acabavam as quatro da tarde e se perderam com ela para sempre nos altos ares onde não podiam alcançá-la nem os mais altos pássaros da memória.

(Gabriel García Márquez, in Cem Anos de Solidão, traduzido por Margarida Santiago)

visagem


o moço me olha atento
e faz de mim uma imagem de névoa

o moço já não enxerga detalhes
mas viu meus ancestrais do deserto
e a personagem de romance que me habita

damo-nos as mãos e passeamos no escuro

quarta-feira, junho 9

sem dramas, sem dramas...

ele está em mim.

porque que a gente é assim????

Todas as mulheres do mundo

obs: em coitada leia doida

Elas querem é poder!

Mães assassinas, filhas de Maria
Polícias femininas, nazijudias
Gatas gatunas, kengas no cio
Esposas drogadas, tadinhas, mal pagas

Toda mulher quer ser amada
Toda mulher quer ser feliz
Toda mulher se faz de coitada
Toda mulher é meio Leila Diniz

Garotas de Ipanema, minas de Minas
Loiras, morenas, messalinas
Santas sinistras, ministras malvadas
Imeldas, Evitas, Beneditas estupradas

Toda mulher quer ser amada
Toda mulher quer ser feliz
Toda mulher se faz de coitada
Toda mulher é meio Leila Diniz

Paquitas de paquete, Xuxas em crise
Macacas de auditório,velhas atrizes
Patroas babacas, empregadas mandonas
Madonnas na cama, Dianas corneadas

Toda mulher quer ser amada
Toda mulher quer ser feliz
Toda mulher se faz de coitada
Toda mulher é meio Leila Diniz

Socialites plebéias, rainhas decadentes
Manecas alcéias, enfermeiras doentes
Madrastas malditas, superhomem sapatas
Irmãs La Dulce beaidetificadas

Toda mulher quer ser amada
Toda mulher quer ser feliz
Toda mulher se faz de coitada
Toda mulher é meio Leila Diniz


mais um pouco de Leila em:
http://www.youtube.com/watch?v=PQVCDCBDYuI


(créditos para Rita Lee)

quinta-feira, junho 3

viagem

vou me pondo na bagagem
imaginando um futuro doce

vou partindo desde ontem
lembrando passados ácidos

vou descobrindo a beleza do amargo
no caminho das raízes

quem, então?...
sois o sal da terra?

sexta-feira, maio 28

oráculo

"Abre-se hoje uma janelinha na cena intima: Urano entra em Áries prometendo revolucionar o âmbito doméstico e familiar com alterações, mudanças e chacoalhadas.
Vai ser um transito planetário lento, por alguns anos. E vai mudar muita coisa."

terça-feira, maio 25

tempo

as cigarras cantaram
para uma chuva temporã

segunda-feira, maio 24

a dor da gente

Impassível e compassadamente o médico lhe disse que seus exames estavam alterados.
E franziu a testa, sem esboçar compaixão.
Passava das onze horas da manhã mas ela viu a escuridão do fim do mundo e depois aquele branco brilhante, do fim do túnel.

Agora já não tinha fome e sua vida estava concentrada naquele ponto, o início da espiral que espalhava suas lembranças
pela cidade e por todos esses anos.

Ouviu a pistola da linha de partida,
ponderou entre o silêncio e o grito
e preferiu o colo de sua mãe, a coragem da ciência,
a força de ser ela.
Chegara sua vez de lutar.

quinta-feira, maio 20

A mulher de todos

Tenho amigas que gostam de cinema.

CCBB Brasília, domingo, 4 da tarde.

No escuro se apresentou um Sganzerla em 69
e a linda gostosa Helena Ignez


Eu também sou Angela Carne e Osso
e nasci para os boçais
eu também sei que sou demais
na Ilha dos Prazeres

não, nós não gostamos de gente
e amamos os bitolados
o melhor boçal é o rico
que nos dará technicolor

Eu queria
Helena Ignez
Glauber Rocha
Rogério Sganrzela
Jô Soares, Julio Bressane, Joaquim Andrade
Stenio Garcia e o nego Pitanga
e todos que estiveram na Ilha

Eu queria morrer num balão
faca entre os dentes
sem responder
quem ela pensa que é

sexta-feira, maio 14

uma Alice em mim



hoje de manhã acordei de um sonho,
raro vislumbre de fantasia rasgada
nesta mente sonolenta.

era uma menina e passeava num jardim verde com sua mãe,
que era ela e era a mãe, às vezes menina essa também.
tinha um sentimento de procura ou talvez susto
e sua mãe também.

quando os bichos se aproximaram
a menina entrou pelo interruptor da parede adentro
e do outro lado estava um momento no passado,
em sépia, em suspensão, no silêncio da surdez.

ela não podia voltar.

ilustração pescada de http://designrn.wordpress.com

segunda-feira, maio 3

Like a rolling stone

Ah, você
Frequentou as melhores escolas
Muito bem, senhorita solitária
Mas você sabe que só enchia a cara lá
Ninguém nunca a ensinou a viver na rua
E agora você aprendeu que vai ter que se acostumar a isso
Você dizia que nunca ia se comprometer
Com o vagabundo misterioso, mas agora percebe
Que ele não tem álibis para vender
Enquanto encara o vazio dos olhos dele
E pergunta:
“Quer fazer um trato?”

Como você se sente?
Como você se sente
Só com você mesma
Sem ter casa para onde ir
Como uma completa desconhecida
Como uma pedra que rola?

(Tradução de Eduardo Bueno)

domingo, abril 25

Sertão

Viver é muito perigoso... Porque aprender a viver é que é o viver mesmo... Travessia perigosa, mas é a da vida. Sertão que se alteia e abaixa... O mais difícil não é um ser bom e proceder honesto, dificultoso mesmo, é um saber definido o que quer, e ter o poder de ir até o rabo da palavra.

(Guimarães Rosa sabedor)

quarta-feira, abril 21

50 anos


Todos os dias
vivo dentro das obras de arte
que se ergueram do chão vermelho
e descortinam o horizonte azul.

Causam espanto enquanto acolhem
os pequenos pedestres,
despejados no abismo seco.

Todos os dias
vivo dentro da história da cidade,
sinto sua força
e bebo seu espírito.

domingo, abril 18

"Há sempre um copo de mar para um homem navegar."

diz o poeta alagoano Jorge de Lima, no cartaz da Bienal 2010.

domingo

tudo continua igual
a TV ligada
a roupa suja
a porta aberta

a vida vivida
amontoada debaixo da cama

a vida por viver
espalhada pela rua

tudo tão diferente
postes iluminados
livros encaixotados
e um coração oco