sexta-feira, julho 31

clima (ou amigos que partem)

é seco e nossos narizes já sangram
todos sentem
quando coisas e pessoas se movem

quarta-feira, julho 29

mercado de trabalho

a displiscência é um pecado.

domingo, julho 26

livros

Tropeçavas nos astros desastrada
Quase não tínhamos livros em casa
E a cidade não tinha livraria
Mas os livros que em nossa vida entraram
São como a radiação de um corpo negro
Apontando pra expansão do Universo
Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso
(E, sem dúvida, sobretudo o verso)
É o que pode lançar mundos no mundo

Tropeçavas nos astros desastrada
Sem saber que a ventura e a desventura
Dessa estrada que vai do nada ao nada
São livros e o luar contra a cultura

Os livros são objetos transcendentes
Mas podemos amá-los do amor táctil
Que votamos aos maços de cigarro
Domá-los, cultivá-los em aquários
Em estantes, gaiolas, em fogueiras
Ou lançá-los pra fora das janelas
(Talvez isso nos livre de lançarmo-nos)
Ou – o que é muito pior – por odiarmo-los
Podemos simplesmente escrever um:
Encher de vãs palavras muitas páginas
E de mais confusão as prateleiras

Tropeçavas nos astros desastrada
Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas

(Caetano Veloso num disco, ao entardecer, que é um livro...)

sexta-feira, julho 24

se é o que queres...

eu sou essa, que é o que queres...
sim, eu sei, no fundo sou o que quero,
mas não resisto ao que você quer.

quinta-feira, julho 23

férias

somos livres para voar para lugares
aprazíveis

quarta-feira, julho 22

esperança

do verbo esperar
o melhor
mais feliz
justo
simplesmente o bom
momento.

terça-feira, julho 21

dia do amigo

acordei com meus amigos bem-te-vis.
no jardim, a melissa virava árvore sob minhas mãos.
chá para minha vizinha Regina.
ela e sua filha Gabriela vieram,
suco de morango.

fui a oficina do João Bigode, no Paranoá.
ele não está mais lá, mas seu filho está.

vi o homem que construiu minha casa, tomamos café na padaria.
vi a moça do horto, levarei a bromélia lilás...

beijei minha amiga Dani que viaja a trabalho,
e quando ia encontrar um trompetista,
os amigos do PAH aniversariam no Beirute.

festa com Miles Davis
e um jantar em meu território na quinta.

além disso, o carro está limpo
e eu ganhei duas partidas de sinuca de um tal Luiz.

dia intenso.

sexta-feira, julho 17

quintana e eu


os muros móveis do vento
compõem minha casa-barco.

quem foi que me prendeu por dentro
de uma gota d'água?

quinta-feira, julho 16

nova boemia

encontrei um homem inteiro ontem, à noite.
ele achava que estava se divertindo
e de fato estava.

nunca resisto aos fortes.
me dão tesão.

quarta-feira, julho 15

boemia

encontrei um homem sozinho ontem, à noite.
ele achava que estava se divertindo
mas parecia um garotinho agarrado a sua caneca.

nunca resisto aos perdidos.
tenho dó.

terça-feira, julho 14

avatar

ficar sem conexão
é como perder o carro.

a vida real te invade
e os pixels voltam ao seu tamanho normal,
assim como as pessoas nas ruas.

o sol da manhã
me arrebatou.

sexta-feira, julho 10

poesia

encontrei meu amigo poeta
e ali ao lado
ele fez um poema imagem

e sorrindo
me deu

o poderoso Leminski

um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto

segunda-feira, julho 6

acne

sou toda vulcões em erupção.

de manhã no rádio do carro

Se os frutos produzidos pela terra
Ainda não são
Tão doces e polpudos quanto as peras
Da tua ilusão
Amarra o teu arado a uma estrela
E os tempos darão
Safras e safras de sonhos
Quilos e quilos de amor
Noutros planetas risonhos
Outras espécies de dor

Se os campos cultivados neste mundo
São duros demais
E os solos assolados pela guerra
Não produzem a paz
Amarra o teu arado a uma estrela
E aí tu serás
O lavrador louco dos astros
O camponês solto nos céus
E quanto mais longe da terra
Tanto mais longe de Deus

(Gilberto Gil interpretando sinais)

domingo, julho 5

início

a foto do céu segue presa dentro da máquina
mas o instante vai grudado na memória

com o domingo, a iminência de outra vida
mais livre do que fui até agora

às vezes parece voto de dieta no reveillon:
tem um ano para acontecer
e prefere as segundas.

PS: eis a foto do céu:

sábado, julho 4

notícia intergaláctica

meu amigo que foi abduzido
me transmitiu hoje essa mensagem:
"o chumbo está derretendo,
Sarney vai rodar."

esse menino fala coisas tão loucas...

ave de rapina

quando saio de casa
e se olho o céu
gritam os gaviões

me sinto acompanhada

quarta-feira, julho 1

o que devo dizer a ela

obrigada.

a casa cheira bem,
mas vejo que ainda há pó naqueles 90° da janela.

sempre é coragem sair do útero da mãe, na estrada,
mas é preciso atentar o olhar.

a geladeira fez um degelo inútil,
mas espero que você tenha sentido a paisagem.

diário

quero lhes dizer que esse dia foi incrível,
não me deixem esquecer.

finalizo com uma torta mousse miss daisy,
que é um ícone.


01/07/2009

que lua é essa?
crescente.